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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Kübelwagen - O "jeep” alemão - parte 2

Como vimos na matéria anterior, o Kübel modelo 62 passou por vários testes que mostraram suas deficiências e qualidades. Depois das modificações feitas, surge o modelo 82, que se tornou conhecido no mundo todo como o "jeep" alemão.
Além da carroceria ligeiramente diferente, a coisa que mais chama a atenção no mod. 82, é a maior altura que ele tem do solo. Isso foi um dos requisitos exigidos após os testes do modelo anterior. O professor Ferdinand Porsche conseguiu essa "levantada" com a adição de uma caixa de redução no eixo traseiro(com a relação de 15:21) e uma modificação na suspensão dianteira.
Outra alteração para melhorar a capacidade fora-de-estrada do novo veículo, foi a troca da relação de engrenagens da transmissão de 5:31 para 7:31 o que reduzia a velocidade, mas aumentava a força.
Os dois primeiros veículos foram completados com carrocerias da empresa Ambi-Budd de Berlim em Dezembro de 1939. O VW Kübelwagen a partir de então foi classificado e recebeu a denominação oficial de "le Pkw-Kfz1 Typ 82" (leichter Personenkraftwagen  Kraftfahzeug 1 typ 82) ou traduzindo mais ou menos seria algo como "Veículo motorizado leve de dois assentos dianteiros e um traseiro para transporte de passageiros modelo 82" (o numero "1" indicava o tipo de plataforma usada, o numero de bancos, tipo de capota e outros ítens).
O Kübel mod.86 foi desenvolvido em paralelo ao mod. 82 e era exatamente o mesmo veículo. A única diferença é que o mod.86 tinha tração nas quatro rodas (já pensou um carrinho destes numa trilha?). Em janeiro de 1940 um teste comparativo dos dois modelos foi efetuado no campo de provas de Eisenach.
Sob a responsabilidade dos engenheiros, Major Henze e Schüte, outros testes foram realizados, de 11 a 24 de Fevereiro, numa viagem de ida e volta de Kummersdorf até St. Johann, no Tirol.
Dois mod.86 (4x4) seguiram numa coluna juntamente com caminhões Borgward, Horch, Henschel, M.A.N., Mercedes, Magirus e Opel que estavam sendo testados. Os dois mod.86 chamaram a atenção de todos os motoristas presentes na coluna, tanto os das fábricas como os do Exército, pela sua velocidade, maneabilidade e excelente aderência ao solo nas estradas congeladas da região, tanto as pavimentadas como as das regiões rurais.
Depois de três dias de viagem, em St. Johann, cada um dos veículos atravessou, por sua vez, o Passo de Thurn. Os dois 86s tiveram que se deslocar com a coluna de caminhões e não puderam ser testados individualmente.
Na próxima etapa, cada veículo deveria passar por dois testes: acionar a partida a cada 10 segundos e uma pausa de 20 segundos para recuperação da bateria. As partidas eram dadas numa temperatura ambiente de -14° Celsius. O motor do mod.86/2 girou estavelmente depois de 8 segundos do primeiro teste. O mod.86/1, que anteriormente havia sido acionado por um motorista do Exército, não conseguiu dar a partida no motor. O teste seguinte foi atravessar um campo forrado por uma manta de neve de 1,20 mts de profundidade. Todos os caminhões da coluna participaram desse teste e invariavelmente acabaram afundando na neve depois de percorridos 50 metros. Os dois mod.86 também afundaram, só que depois de um trajeto de 100 metros.
Os testes foram repetidos no dia seguinte, só que com correntes e outros acessórios. Um dos mod.86, usando correntes e flutuadores de neve presos às rodas, andou magnificamente sobre o mesmo terreno do dia anterior sem nenhuma dificuldade, para espanto de todos os motoristas e pessoal técnico presentes aos testes.
Flutuador instalado num Schwimmwagen
Para quem nunca viu algo do gênero, vale uma explicação sobre o que é um flutuador de neve: é um dispositivo que mais parece um tambor, que é preso às rodas do veículo de modo que superfície de contato do pneu seja aumentada e o peso total seja distribuído numa área maior, fazendo com que a possibilidade do carro afundar seja diminuída consideravelmente. Para melhorar a tração, travessas são soldadas a esse "tambor" e estas agem como remos, tanto para a neve como para o barro mais mole. Apesar da ajuda que esse dispositivo proporciona, existe um problema criado pelo aumento da superfície de contato.

Todos os terminais das barras de direção e suspensão sofrem muito com o aumento das pressões e se desgastam muito mais rapidamente.
Ao todo foram percorridos 148 km nesse teste com um consumo de 2,257 litros de combustível por veículo e mais 3 litros de óleo.
Em outros testes levados a cabo entre 25 de Março e 15 de Abril no Centro de Testes de Wünsdorf os resultados obtidos em St. Joahnn puderam ser confirmados.
Nesse centro, desta vez, apenas os Kübel foram testados, sendo onze exemplares do mod.82 e dois do mod.86.
Pequenas costelas que deveriam ser vencidas em Wünsdorf
 
Nesse Centro de Testes, os veículos foram realmente usados e abusados ao extremo, afinal, era necessário saber até onde ia a resistência do pequeno carrinho. Com exceção de alguns pequenos acidentes, a sessão de massacre dos carros transcorreu sem maiores problemas.
 
Por mais que se façam testes nos campos especializados e por melhores que sejam os pilotos de prova, o maior de todos os testes será no campo de batalha, nas mãos do soldado inexperiente que vai dirigir o veículo de qualquer jeito e em quaisquer condições de terreno, com ou sem manutenção adequada (isto é, quando ela existe). Nessas horas é que se conhece um projeto bom e bem pensado.
 
 
 
 
 
 
 
O pequeno Kübel mod.82 agüentava tudo e mais um pouco devido à sua simplicidade e engenhosidade. Êle era amado por todo e qualquer soldado independente da patente.
Kübelwagen "Otto" de Hans Joachim Marseille (Ás do Norte da Africa)
"OTTO" em italiano significa OITO,...
...o número de aviões que Marseille derrubou num único dia.
A sua maneabilidade, leveza, facilidade de manutenção fez dele o veículo mais versátil que o Exército alemão já tivera.
Facilmente, dois homens podiam levantá-lo por uma das laterais e colocar um macaco já aberto por baixo da carroceria a fim de trocar um pneu furado. 
 
Manutenção facil da suspenção
A retirada do motor era simplificada pela excelente engeharia de projeto
A troca de uma suspensão quebrada era executada em poucos minutos, já que a placa protetora frontal era facilmente removida e a suspensão ficava totalmente exposta, facilitando a sua remoção sem maiores problemas.
Esse tipo de carinho pelo carro era despertado também nos inimigos que quando podiam, tratavam de se apoderar de algum para seu uso. Exatamente como os alemães faziam com relação ao jeep americano.
Paraquedista americanos em Carentan com um Kübel "libertado"
 
 
Soldados do Africa Korps com um Jeep capturado do SAS
 
Existe uma historia sobre um mod.82 que "prestou relevantes serviços" à 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO) da FAB na Itália. O piloto de reconhecimento Joel Clapp conseguiu, através de um oficial americano, um mod.82 que foi bastante utilizado por ele e por todo o pessoal do esquadrão. O valente carrinho recebeu o apelido de "Caroço". Mal sabiam aqueles homens, que num futuro próximo, carros com aquela mecânica seriam produzidos na sua terra natal. Várias versões foram produzidas em cima da mesma plataforma e com pequenas modificações na carroceria.
Kübel Caroço da 1ª ELO
No total, até 10 de Abril de 1945, saíram da fábrica aproximadamente as seguintes quantidades:

- mod.82 Kübel (4 assentos) - 37.320
- mod.82 Carro de rádio - 3.326
- mod.82 Reconhecimento - 7.545
- mod.82 Reparos de campo - 2.324
 
 

Numa próxima matéria, você verá que não foram só os projetistas americanos que inventaram maluquices com o Jeep, os alemães não ficaram nem um pouco atrás!
Até a próxima e mantenham todos eles rodando.



FICHA TÉCNICA PARCIAL

Nomenclatura:
KDF Kübelsitzwagen Typ 82
Comp. total:
3,74 mts
Largura total:
1,60 mts
Dist. entre eixos:
2,40 mts
Bitola:
1,356
Peso liquido:
668 Kg
Sistema elétrico:
6 volts
Combustível:
Gasolina
Ângulo de entrada:
60º
Ângulo de saída:
38º
Carga:
400 Kg
Pneus:
5.25 x 16
Motor:
VW de 4 cilindros contrapostos
Refrigeração
Ar
Potência:
1.131 cc, 25 bhp @ 3.000 rpm
Veloc. máxima:
80 km/h
Transmissão:
4 marchas manual
Diferencial:
Autoblocante