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sábado, 21 de janeiro de 2012

"JEEP STATION WAGON" E FAMILIA - Parte1

Desta vez, o veículo que vou mostrar é a primeira modificação de grandes proporções que o conceito "jeep" teve de sofrer para se firmar ainda mais no concorrido mercado civil do pós guerra já que a Willys não tinha muita tradição no mercado de automóveis e sim no de caminhões e utilitários. Como o próprio nome já diz, trata-se da perua jeep ou, como ela ficou conhecida aqui no Brasil, a Rural Willys.
A Willys durante os estágios finais da guerra começou uma campanha publicitária de grandes proporções anunciando um veículo civil que teria incorporado todas as características do famoso jeep militar. Essa máquina era chamada nos anúncios de "Victory Car", ou seja, Carro da Vitória e teria toda a estrutura e a mecânica do jeep com uma carroceria mais ou menos convencional por cima de tudo. Problemas de ordem administrativa, de produção e de interesses particulares internos acabaram fazendo com que esse carro nunca saísse do papel.
Talvez o maior problema que a Willys teria de enfrentar para colocar o seu projeto em andamento, era o de que todos os fabricantes de carrocerias estavam entupidos com inúmeros contratos de fabricação e não teriam condições de produzir as carrocerias necessárias ao projeto.
O projetista do Victory Car, Brooks Stevens, partiu então para uma solução que "caiu como uma luva" para a situação que se apresentava. Êle idealizou um novo conceito em desenho automotivo: a perua feita totalmente em chapas de aço.
Vale ressaltar aqui um fato bastante interessante que talvez a maioria das pessoas não saiba: não existiam peruas de passageiros, em linha de produção feitas em aço, antes da guerra. O que existiu durante a guerra, foram alterações feitas em madeira para alongar carros comuns com o propósito de conseguir uma capacidade de carga maior e um aumento no numero de passageiros transportados.
Sedan Mercury transformado numa Station Wagon com o kit da empresa Monart
Os Estados Unidos estavam em pleno esforço de guerra e a idéia da carona solidária para poupar combustíveis e pneus era um dos fatores que fizeram surgir esse tipo de modificação quase artesanal que era vendido em kits que o comprador tentava instalar ou se preferisse (o que era mais normal), a própria fabrica instalava para ele. Mas isso é um assunto para uma outra vez.
Voltando ao que interessa, no novo conceito, um design simples e plano, que facilitava tanto a construção de matrizes que, como se dizia na época, até fabricantes de geladeiras poderiam produzir os estampos, a perua Willys acabou se tornando um dos veículos construídos que mais influenciaram as tendências de mercado.
Montada na mesma plataforma de 104 polegadas do Americar de antes da guerra e com generosas modificações de chassis ela absolutamente tinha as pretensões de leveza e suavidade de linhas que o Victory Car propunha.
Era, ao contrário disso, prática e robusta com uma silhueta alta e angular. Como eu costumo dizer: "ela tem a aerodinâmica de uma caixa de sapatos", sem querer ofender os donos de Rurais, pois eu também sou proprietário de uma dessas máquinas e sei o quanto ela briga para vencer a resistência do ar numa estrada!
A sua concepção era bem simples, com grade plana e paralamas que eram praticamente cópias dos modelos usados pelos Jeeps militares. Sua aparência era bastante austera e apenas uma opção de cor era oferecida: vinho escuro nos paralamas, capô e capota. As laterais eram em creme com os painéis (que ajudavam a dar rigidez na estrutura do conjunto) em marrom claro para imitar madeira que era um padrão para as peruas da época.
A perua era terrivelmente fraca em termos de potência de motor. Pesava em torno de 300 Kg a mais que o Americar e sendo ela impulsionada pelo mesmo motor de 63 hp do sedan de antes da guerra, a performance era sofrível. Um "Overdrive" (quarta marcha) era oferecido como opcional, mas logo se tornou padrão pois o carro necessitava da flexibilidade de quatro marchas.
Em termos práticos ela tinha muitas coisas boas:
-Um sistema de suspensão independente na dianteira, desenhada pelo chefe de engenharia Barney Ross, lembrava muito um sistema chamado "Planar" desenvolvido pelo próprio Ross para a Studebaker no meio dos anos trinta. Utilizava sete lâminas transversais em lugar das molas convencionais. A Willys a chamou de "Planadyne".
Apesar dos modestos 4,78 mts ela tinha capacidade para sete passageiros.
Com os bancos traseiros removidos tinha 96 pés cúbicos de espaço para carga.
Sua altura interna era de 1,27 mts permitindo o transporte de objetos relativamente altos.
A construção totalmente em aço eliminava os persistentes problemas de manutenção que eram a dor de cabeça para os donos de outras peruas com carroceria de madeira.
O preço era várias centenas de dólares inferiores ao de qualquer outra perua até a época de sua introdução no mercado.
O mais importante de tudo eram os seguintes fatores: simplicidade, confiabilidade, economia e robustez.
Atenção para um detalhe muito importante que pode chocar alguns: quando foi lançada em 1946, só existia a versão 4x2. Só em Julho de 1949 é que a versão 4x4 passou a ser oferecida.
Era apresentada unicamente na versão de duas portas e com um assoalho totalmente plano para facilitar a carga e descarga.
Foi um carro que vendeu relativamente bem: 6.534 unidades na segunda metade de 1946 e 27.515 em 1947. Pode-se afirmar que a Willys venderia todas as que eles tivessem capacidade de fabricar, mas matérias primas em geral e principalmente as chapas de aço estavam em falta no mercado e isso tendia a atrapalhar os planos dos fabricantes de veículos.
Nessas horas sempre aparece um "espertinho" que quer ficar conhecido às custas dos outros (isso é comum até hoje em dia e principalmente por aqui) e solta um boato de que as peruas e os Jeeps civis eram feitos com peças excedentes e também com partes usadas, trazidas da Europa, dos Jeeps militares que eram desmontados. Brooks Stevens, enquanto afirmava que o visual de jeep havia sido conservado por uma questão de reconhecimento imediato e também por economia na fabricação de matrizes, respondeu de modo bem áspero - "Qualquer um de posse de suas faculdades mentais sabe que isso não é verdade. A bitola era diferente, a distancia entre eixos era diferente, não existia a tração nas quatro rodas, tudo enfim era diferente".
Uma versão de luxo foi incluída em 1948 e era conhecida como Station Sedan e tinha um acabamento bem melhor do que a versão Wagon tanto por dentro como por fora, apesar de ser usada a mesma carroceria.
Outras cores foram acrescentadas e, em algumas delas, em lugar dos painéis pintados imitando madeira nas laterais, uma pintura em padrão xadrez que lembra uma cesta de vime foi colocada em seu lugar. Um repórter inglês que estava na apresentação do carro sugeriu que "aquilo parecia com um carro de defunto do interior". Entretanto, muitos observadores acharam esse enfeite atraente.
Apresentava algumas sensíveis melhorias como a adição, como opcional, de um novo motor de 6 cilindros com válvulas laterais e uma capacidade de 148,5 polegadas cúbicas e 72 hps. Isso dava uma vantagem de 11% sobre a versão de 4 cilindros. O desempenho total sofreu uma melhora bastante sensível.
Na próxima matéria veremos os modelos subseqüentes a algumas variantes bastante interessantes que surgiram inclusive a versão pick-up. Até lá e como sempre digo: Mantenham os jipes rodando.