|
Desmanche na rodovia BR116 |
Meu Deus! Pelo título, parece alguma novela mexicana. Não é nada disso, não se preocupe.Ao revirar meus arquivos fotográficos em busca de material para as minhas matérias, de vez em quando me deparo com alguma foto que me faz pensar, principalmente depois que vejo a data em que ela foi tirada. Algumas delas eu nem coloquei data, mas na maioria sim e quando me dou conta de que esta ou aquela foto foi tirada há mais de 30 anos, começo a pensar que estou ficando tão antigo quanto os carros que gosto tanto. Daqui a pouco alguém vai acabar escrevendo uma matéria sobre como recuperar uma antigüidade como eu.
Na última incursão que fiz na gaveta de fotos de veículos militares, achei algumas fotos de velhos depósitos de material militar. Alguns nem existem mais e outros diminuíram drasticamente de tamanho.
|
WC 54 usada como borracharia imóvel na Baixada Fluminense (1984) |
Outras foram feitas durante o trajeto para algum lugar e nem sempre eu tinha tempo e nem condições para fazer uma boa foto, mas o que valia era guardar uma imagem que fosse de algum veículo militar que eu encontrasse.
|
Jeep Bombeiro num desmanche na BR116 (anos 80) |
|
M37 num desmanche na BR116 (anos 80) |
Já encontrei veículos nos mais variados estados de conservação, desde os impecáveis até puro lixo. Numa ocasião tive a oportunidade de encontrar os restos do que foi, algum dia, um jipe 42. Eu disse foi, porque o que restava era um pedaço da carroceria, que havia sido cortada com um maçarico, sem paralamas e muito menos motor e câmbio. Por curiosidade perguntei ao dono "daquilo" quanto ele queria pelo que havia sobrado, e a resposta foi um sonoro US$ 5.000,00. Quase caí de costas de susto. Vendo a minha cara de espanto ante a quantidade de "zeros" do preço, ele passou a explicar que era um carro muito raro e que havia sido o jipe pessoal de (imaginem) Getulio Vargas e que fôra usado para passar em revista as tropas que iriam para a Itália durante a Segunda Guerra. Quando ouvi essa "pérola" retruquei de pronto: "Se esse carro era tão raro e valioso, quem foi o cretino f....da p.... que cortou ele com um maçarico?". Ante o silêncio que se seguiu, não tive dúvidas de que eu estava diante do autor da obra.
Acho que um dos aspectos mais interessantes que eu notei nos meus anos de pesquisa em depósitos de sucata e donos de veículos militares antigos, é o fato de que praticamente todos os veículos que encontrei até hoje foram de algum General ou Marechal ou até de um Presidente e nunca encontrei um que havia sido de algum simples soldado ou cabo. Será que apenas os oficiais dos escalões superiores tinham acesso aos jipes? Isso não importa.
Numa outra ocasião, um rapaz ligou para o meu serviço e me perguntou se eu tinha uma cópia do manual de manutenção do jipe militar para vender. Respondi que sim e ele me explicou que havia comprado um GPW 43 original e completo com todos os detalhes e que só faltava montar tudo. Haviam empurrado para o coitado uma montanha de peças de jipe militar que até poderiam ser de um 43, mas para transformar tudo aquilo num jipe iria demorar um bocado de tempo. Um detalhe muito importante é de que o motor e o câmbio também estavam desmontados e o feliz comprador não sabia praticamente nada de mecânica.
Algumas histórias muito engraçadas aconteceram dentro de depósitos de sucata e uma que me vem bastante à mente aconteceu num depósito que existia no Brás, mais precisamente na Rua dos Trilhos.
|
GMC CCKW 353 no desmanche na Rua dos Trilhos (1973) |
|
Dodge WC 56 no desmanche na Rua dos Trilhos (1973) |
Num determinado dia (nos anos 70), estava eu a chafurdar uma pilha de peças recém chegadas do quartel, quando vejo um senhor entrar no depósito e se dirigir ao escritório do dono. Alguns minutos depois ambos saem de lá e olham uma pilha de jipes militares. Isso mesmo que você leu, "uma pilha de jipes militares". Nessa época era uma coisa muito comum se ver num depósito de sucata, jipes empilhados para não ocupar muito espaço, afinal de contas, aquilo (os jipes) não valia muita coisa, eram só jipes velhos. O tal senhor escolheu o que estava no topo da pilha de 4 carros e o funcionário do depósito, que estava nos comandos de um guincho enorme, deu uma pequena empurrada nele com a ponta da lança do guincho. Dois segundos depois, o jipe se precipitou ao solo com tudo que tinha direito. Uns dois ou três amassadinhos aqui e ali e mais nenhum dano na carroceria. Colocaram o dito sobre a caçamba de um caminhão que estava esperando do lado de fora e se foram. Depois de algum tempo, fui conversar com o dono do lugar e perguntei se não era mais fácil passar os cabos de aço no jipe e descê-lo até o solo sem ter que jogá-lo de lá de cima. A resposta veio rápida: "alguns amassados a mais não vão diminuir o preço de uma sucata dessas e, além disso, esses jipes são muitos resistentes". Naquela época, os velhos jipes e carros militares não eram tão valorizados como hoje. Quantas vezes me chamaram de louco, por eu estar restaurando um jipe da Segunda Guerra, numa época em que praticamente ninguém andava de jipe na cidade e os que o faziam usavam carros bastante modificados. Lembro-me de um jipe militar que circulava pela área da Rua Augusta, aqui em São Paulo, e que o dono havia retirado praticamente todos os equipamentos militares e os que haviam sobrado, ele tratou de cromar. A cor com que ele foi pintado faz com que até hoje eu me lembre dele: era LILÁS METÁLICO. Um primor de “bom gosto”.
O mais engraçado dessa época, é que ninguém dava o mínimo valor para qualquer tipo de veiculo militar, tanto que a maioria era simplesmente desmontada para virar sucata.
Lotes de caminhões praticamente intactos, inclusive com a fiação elétrica ainda de pano, foram desmontados para fornecer peças para outros veículos que operavam em madeireiras.
|
CCKW 352 num desmanche na BR116 |
|
Dodge WC 56 num desmanche na BR116 |
|
Dodge WC 56 num desmanche na BR116 |
Quando mostro algumas das fotos que tenho no arquivo, as pessoas normalmente duvidam que esses veículos estivessem num depósito de sucata para serem desmontados ou vendidos, por serem considerados inúteis, dado o excelente estado de conservação em que se encontram. Como já disse anteriormente, nessa época não se dava o devido valor a esses valentes guerreiros do passado.Temos que ter em mente uma coisa: o que é comum hoje em dia, não o será daqui a trinta anos e se por um acaso temos nas mãos algo que já hoje é difícil de ver, por que não mante-la original para que nossos filhos e netos venham a ver como as coisas eram feitas no passado. Isso é a cultura de um povo e que, infelizmente, muitos de nós destrói sem pensar.
Sendo um preservacionista como sou, não me conformava e ainda não me conformo com esse tipo de descaso com a memória de uma nação, mas como não podia fazer muito, decidi fazer o que estava ao meu alcance para, pelo menos, preservar um pouquinho daqueles veículos que eram desmontados: comecei a colecionar as plaquetas de identificação dos carros que eram desmontados. Algumas me foram dadas de presente e outras eu tive que comprar.
Abaixo, algumas plaquetas do meu acervo.
|
GMC CCKW 353 |
|
Tanque M41 |
|
Fabricante da carroceria da Ambulancia Dodge WC 54 |
|
Caminhão de combustivel "CCKW Fuel Truck, 750 Gallons, 2 1/2 Ton, 6x6" |
|
GMC CCKW 353/352 Velocidades máximas |
|
Placa da D.M.M. Jeep MB 1942 |
|
Plaqueta de manuais da Carreta Ben-Hur de 1 Ton |
|
Plaqueta de identificação da Carreta Ben-Hur de 1 Ton |
|
Plaqueta da série Dodge Power Wagon para a América Latina |
|
Plaqueta de Oficina Móvel de Engenharia |
|
Dimensões da Dodge WC 56 |
|
Plaqueta de instruções do GMC CCKW 353/352 com guincho frontal |
|
Dimensões da Dodge Ambulância WC 54 |
Consegui reunir um conjunto de plaquetas que conta um pouquinho da história desses veículos que fizeram parte da história e que fizeram a sua parte na historia da humanidade. Até a próxima e mantenham a nossa memória e cultura vivas.
Show de bola como sempre Bídoli! Lembro dessa matéria na revista e de como eu queria ver as plaquetas! hehe
ResponderExcluirMuito legal ver as fotos da época!
Acho que valeu a espera né? E essas são apenas algumas.
ExcluirQUANTO DESPERDÍCIO! POUCOS DESSAS JÓIAS FORAM RECUPERADAS E FORAM PARA OS FORNOS DAS SIDERURGICAS...
ResponderExcluir