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quarta-feira, 16 de março de 2011

M-422 MIGHTY-MITE (O Jeep dos Marines)

M422 fotografado em 16/07/2009 no Museu dos Marines em Camp Lejeune

Talvez você já tenha ouvido falar desse veículo. Se não ouviu, não se preocupe você não está desatualizado. Acontece que o M-422 foi um Jeep produzido em escala muito pequena (menos de 4000 unidades, mais exatamente 3922) e exclusivamente para os Fuzileiros Navais entre os anos de 1960 e 1964.
A historia desse veículo é similar a de muitos outros que foram testados e aceitos ou recusados. Tudo surgiu da eterna necessidade dos militares de um veículo com uma capacidade de carga similar ou maior que a do Jeep da Segunda Guerra, que pudesse ser transportado por avião ou helicóptero, mais leve e que fosse fácil de ser mantido em campo.
Teste de içamento feito com um dos primeiros protótipos da MARCO
Como não podia deixar de ser, os Fuzileiros estavam idealizando uma série de táticas ditas de "envolvimento vertical", ou seja, transportar em grande velocidade pelo ar uma força de combate para posições avançadas e necessitavam, como sempre, algo que substituísse o Jeep convencional. Estudos e projetos foram iniciados logo depois da guerra e resultaram num protótipo que foi testado em 1953.
Era um veículo bastante leve para os padrões de veículos militares da época e apresentava algumas características bastante interessantes, como por exemplo: motor refrigerado a ar, uma suspensão independente assistida por molas semi elípticas e uma construção totalmente em alumínio.
O primeiro veículo construído, foi desenhado pelo engenheiro de automóveis Ben F. Gregory, foi testado em 1946 e saiu-se tão bem nos testes, que propiciou a formação de uma empresa para desenvolver o carro. Essa empresa chamou-se MARCO (Mid-American Research Corporation) e foi instalada na Pensilvânia em Wheatland.
Depois de ouvir as necessidades e especificações dos fuzileiros, a equipe de projetistas, dentre os quais quatro dos homens que haviam trabalhado na construção do Bantam original (Harold Crist, Hempfling, Turner e Frank McMillan), trabalhou em cima daquele primeiro protótipo de 1946 e acabou fazendo surgir o primeiro modelo do que viria a ser o M-422, um veículo bastante pequeno, extremamente leve e com uma manobrabilidade de fazer inveja a qualquer outro de sua classe e que inclusive podia trafegar apenas com três rodas devido ao baixo centro de gravidade e distribuição de peso adequada. Pelas fotos dos testes feitos em Quantico, dá para se ter uma idéia das torturas pelas quais o protótipo passou e isso não era nem uma amostra do que realmente ele viria a enfrentar na vida real nas selvas do Vietnã.
 
 
E não é que ele andava mesmo só com três rodas!
 
 
Quando os testes terminaram, o Comando dos Fuzileiros estava tão impressionado com o carro que queria começar a produção imediatamente, mas uma pequena cláusula no regulamento militar quase que pôs por terra o esforço de todos os envolvidos. Os veículos de teste tinham motor de quatro cilindros contrapostos, refrigerado a ar, de Porsche. Pelo regulamento, os veículos de teste podiam ter motor importado, mas os de produção não. O que tem muita lógica, pois a produção de um veículo tático nunca poderia depender do fornecimento de materiais e muito menos de peças vitais de um país estrangeiro. As consequências disso seriam desastrosas em termos de vulnerabilidade da capacidade tática de uma força armada. O fornecimento de peças poderia ser suspenso sob qualquer alegação política e em caso de uma guerra, um bloqueio das rotas de fornecimento do material de reposição.
Quando esse quadro se apresentou diante de todos, houve um momento de grande embaraço, pois a indústria americana não dispunha de nenhum motor que apresentasse desempenho satisfatório aliado ao peso especificado. A MARCO começou então a entrar em contato com os vários fabricantes de motores para ver, se por um acaso, eles tinham algo em desenvolvimento que pudesse ser adaptado às exigências do Mighty Mite. Como nos momentos de crise parece que sempre tem alguém "lá em cima" dando uma ajudinha aqui "em baixo", a American Motors estava trabalhando no desenvolvimento do protótipo de um motor V4 em alumínio que desenvolvia 50 hps e ainda por cima refrigerado a ar que poderia resolver o problema de potência e também satisfaria a exigência dos Fuzileiros Navais.
A MARCO e a American Motors acharam conveniente transferir, através de um acordo, a produção do M-422 para American Motors.
Algumas modificações no motor foram feitas para que ele tivesse potência de sobra. A cilindrada foi aumentada para 1.700 cc e a potência subiu para 54 hps. Depois os Fuzileiros propuseram algumas modificações, como por exemplo, a mudança da construção do chassi, que era tubular, para um modelo padrão, aumento de uma distancia entre eixos e outros pequenos detalhes. Apesar dessas mudanças terem aumentado o peso do veículo, este ainda se manteve dentro dos padrões exigidos. O novo motor modificou um pouco a frente do veículo, mas ainda algumas mudanças iriam ocorrer até que ele tivesse a sua frente definitiva.
Primeira versão do M422 com o novo motor (curta)
Uma das características bem interessantes do M-422 era o fato da suspensão independente, além das bandejas características, possuir meios feixes de molas presos a elas, que agiam como barras estabilizadoras, e evitavam que o veículo capotasse com muita facilidade.
Feixe de molas M422
Feixes de molas do M422 unidos na parte central do chassis
O visual desse tipo de suspensão para nós, que estamos acostumados com o feixe de molas convencional dos nossos jipes faz parecer que está faltando alguma coisa ali em baixo. Acho que qualquer um que visse um carro desses e não estivesse avisado que aquilo é assim mesmo, iria achar que algo estava quebrado.  Se bem que isso não era uma novidade em termos automobilisticos, pois o jeep russo GAZ já usava esse sistema desde a Segunda Guerra.
Feixe de molas do GAZ 67
Outra novidade que facilitava a manutenção diminuía a quantidade de peças e melhorava a confiabilidade dos freios, era o fato das panelas estarem localizadas na própria caixa de transmissão dianteira e junto ao corpo do diferencial traseiro.
Panela de freio traseira
A refrigeração do motor era feita pelo ar que passava por uma turbina colocada atrás da grade frontal que por sua vez dirigia o fluxo diretamente para o sistema de arrefecimento geral.
Turbina frontal do M422
A tomada de ar para o carburador era feita por uma abertura na lateral dianteira direita, logo à frente da porta do acompanhante e dispunha de adaptadores para ser colocado um tubo que garantia o fornecimento de ar para o motor quando o veículo fosse atravessar águas mais profundas.
Versão curta com snorkel
A caixa de câmbio de três marchas e a caixa de reduzida, do protótipo original, foram substituídas por outra de quatro marchas com a primeira marcha seca e as outras sincronizadas e os diferenciais foram trocados por modelos auto-blocantes. A primeira tinha uma relação de 5.24 : 1, ou seja, era bastante reduzida sendo outra particularidade do M-422 a de que a tração nas quatro só podia ser engatada em primeira e com o carro parado. Com uma redução dessas, já pensou que pulo ele devia dar quando um motorista mais inexperiente soltava a embreagem rápido demais?
Apesar da carroceria de alumínio não ser tão resistente quanto uma de aço, o pequeno jeep dos fuzileiros desempenhou seu papel na guerra do Vietnã com eficiência e confiabilidade como era de se esperar de um descendente dos valentes jipes da Segunda Guerra.
 
 
 
 
 
O maior inimigo do M-422, foi o custo de produção. Todas as partes de carroceria e motor em alumínio fizeram com que o custo dele ficasse na casa dos US$ 5.200,00 por unidade, ou seja, quase três vezes o que custava um jeep normal na época.
Hoje em dia os poucos remanescentes encontram-se nas mãos de colecionadores que desembolsam grandes quantias por um exemplar em boas condições, já que não existem peças de manutenção. 
 
 
As que foram fabricadas foram todas enviadas exclusivamente para o Corpo de Fuzileiros Navais e estes por sua vez as usaram até que terminassem e daí vendeu os poucos e surrados veículos que sobraram. A American Motors por sua vez, quando alguém a procura em busca de peças, diz que o único jeito de se obter alguma coisa de reposição é o interessado comprar dois carros para fazer uma canibalização quando for necessário.
Obviamente, eu teria muito mais coisas para falar, dessa pequena maravilha, mas vou ficando por aqui esperando ter mostrado alguma coisa que você tenha curtido. 
Até a próxima! E mantenham os Jeeps rodando.

Obs. Para aqueles que gostam de ver veículos militares originais em filmes, um Might-Mite aparece em várias cenas de um antigo filme de ficção cientifica chamado “A Fuga do Planeta dos Macacos”. Confira.


FICHA TÉCNICA PARCIAL
Comprimento total:
2.710 mm
Largura total:
1.539 mm
Distancia entre eixos:    
1.800 mm
Altura do chão ao topo do volante:
1.320 mm
Altura do chão ao capô:
1.140 mm
Peso liquido:
765 Kgs
Sistema elétrico:
24 volts
Capacidade de combustível:
46,8 lts
Angulo de entrada e saída:
55° -  47°
Capacidade de carga:
382.5 Kgs
Pneus:
6.00 x 16 militar não direcional
Motor:
AMC Modelo AV-108-4
Tipo:
refrigerado a ar ( 4 tempos )
Potência:
54 hp
Velocidade máxima:
96 km/h

3 comentários:

  1. Excelente!
    Me lembro da matéria quando saiu na revista, mas agora está bem melhor!
    Gosto muito desse tipo de veículo militar, pequeno e leve, não sei porque hoje em dia essa fixação em veículos enormes, com mais de 2 t... os nânicos tem muito mais charme, e funcionalidade! hehe

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  2. Mais um excelente artigo!
    Parabéns!

    Às vezes tenho a séria impressão de que os americanos "perseguem" os alemães em termos de inovação e tecnologia militar...

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  3. Obrigado pelos comentários. Procuro não só manter como melhorar a qualidade das matérias dentro do possivel.

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