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quarta-feira, 15 de junho de 2011

"M-38" ou "Como tapar um buraco"


Existem veículos que por força de circunstâncias acabam não tendo o seu devido lugar de destaque na história dos carros militares e uma dessas máquinas foi o M-38.
No fim da Segunda Guerra, os americanos viram-se com uma quantidade enorme de Jeeps MB e GPW. A quantidade era de um tamanho tão incomodo que não existiam instalações em número suficiente para armazená-los adequadamente. Foram vendidos aos milhares para os civis e para os países aliados e ainda assim sobraram quantias enormes. Por alguns anos as forças armadas americanas não precisariam se preocupar com veículos dessa categoria. ERRADO. Apesar da quantidade, eles já eram carros ultrapassados e ao longo da guerra suas deficiências foram aparecendo.
O Exército Americano encomendou para a Willys um novo carro para substituí-lo. Mas em tempos de paz o orçamento disponível para pesquisa era insuficiente para se projetar um carro novo. Os técnicos decidiram que deveriam aperfeiçoar o velho guerreiro. O único jeito era pegar o que se tinha à mão, ou seja, um CJ-3A (agrícola) reforçar onde fosse necessário e colocar os equipamentos que eram padrão para os carros militares da época.
Assim, o fazendeiro foi recrutado e se tornou um soldado até que houvesse verba para o desenvolvimento de um carro totalmente novo.
As modificações não foram muito grandes, já que o CJ-3A era praticamente igual ao velho jeep militar. Foram mudados o sistema elétrico, que passou a ser de 24 volts (duas baterias de 12 volts em caixas seladas) em lugar dos 6 volts do sistema civil, a relação de engrenagens dos diferenciais que se tornou mais longa já que um carro de reconhecimento tem que ter agilidade e não necessariamente força para puxar um arado. Os pneus foram aumentados para a medida de 7.00x16 e a carroceria foi construída em chapas de aço mais resistentes. Foram também colocados dispositivos para tornar à prova de água tanto o sistema elétrico como o sistema de carburação, respiro e descarga do motor.
Foi no painel de instrumentos que ocorreu a maior diferença, pelo menos a mais visível:
- o freio de mão foi mudado da direita dos mostradores para a esquerda do volante.
- os relógios foram colocados num painel destacável que facilitava a manutenção, já que o conjunto todo era preso por quatro parafusos de encaixe rápido.
- ganhou um pequeno porta luvas do lado direito (coisa que o CJ3A nunca teve).
- um sistema de iluminação moderno e à prova de água, com uma chave controladora das luzes do tipo moderno ou como é conhecida nos meios militares - chave OTAN.
- controles de acelerador manual e afogador no formato de "T".
 
- ao invés das três placas de instruções que existiam nos MB e GPW, agora o painel continha seis placas e se por um acaso o veículo tivesse um guincho frontal, a sétima placa já tinha seu lugar reservado.
- e tanque de combustível com saída por cima e com capacidade para 49,12 Litros (13 Galões) (CJ3A tinha um tanque de 39,7 Lts), com um bocal bem maior e com um sistema de filtro para impedir que impurezas entrassem no tanque.
O novo sistema de vedação para o sistema elétrico mudou muito o visual da parte interna do motor. O distribuidor ficou muito maior, já que a bobina é colocada dentro dele. Vale notar que essa bobina é de padrão militar e não tem nada a ver, em termos de tamanho, com as que conhecemos. Por sinal ela é mais ou menos do tamanho de uma pilha grande de lanterna. Os cabos de velas não são encaixados e sim rosqueados na tampa do distribuidor que por sua vez também é parafusada no corpo do mesmo. As velas são blindadas e a parte de cerâmica não fica visível, sendo que os cabos, que vem do distribuidor, também são rosqueados nas pontas delas.
 
O filtro de ar ganhou uma entrada lateral com uma tampa na forma de cogumelo que devia ser retirada para a colocação do tubo de respiro para atravessar águas profundas. Essa tampa devia ser recolocada na ponta desse tubo de respiro para evitar a entrada de detritos que pudessem entupir o filtro de ar. Do mesmo modo que a carburação estava protegida contra a entrada de água, o mesmo devia ser feito com a descarga. Outra extensão era parafusada na ponta da saída do escapamento fazendo uma curva virada para cima. Tinha um comprimento que ultrapassava a altura da capota.
O jeep ficava parecendo uma locomotiva com aquela chaminé soltando fumaça para cima. Mas se mostrou bastante eficiente.
Outra inovação foi a colocação no paralama direito de uma tomada elétrica ligada diretamente à bateria e que servia para ligações diretas com equipamentos ou para no caso de uma bateria defeituosa, outro carro ou bateria poderia ser ligado ali e suprir energia para a partida.
Uma modificação que chama bastante a atenção para os M-38 é o fato das ferramentas (pá e machado) estarem do lado contrário do MB ou GPW, ou seja, estão do lado do passageiro e não do motorista. 
Outra coisa que já deu muito motivo para discussão foi o fato do M-38 ter herdado do modelo civil a tampa traseira.
Todo M-38 tem tampa traseira de fábrica e um retângulo colocado no centro desta, onde deveria estar escrito o nome do fabricante (Willys).
Outro item do M-38 é a proteção dos faróis, que consiste num arco de ferro relativamente grosso que cruza a frente de cada farol em diagonal.
O parabrisa também tem uma pequena diferença que já enganou muita gente que acabou comprando gato por lebre. A janela de ventilação que fica na parte central do parabrisa é fixa e não articulada como no modelo civil.
 Uma pequena modificação, que ajudou muito o pessoal da manutenção, foi a colocação de duas dobradiças na parte inferior da grade frontal. Isso permitia que a grade fosse abaixada (depois que todos os parafusos que a fixavam nas laterais do motor fossem retirados) e assim tinha-se livre acesso ao radiador, hélice, correias, bomba de água e gerador.
 Ao contrário do CJ3A, que tinha o radiador preso à grade, o M38 tinha um radiador bem maior e preso à estrutura do motor, o que permitia que o conjunto completo fosse retirado facilmente numa manutenção.

Um fato histórico que muita gente não sabe é que apesar do M-38 ser conhecido como o jeep da Guerra da Coréia, sua participação naquele conflito foi muito reduzida, pois, devido a à topografia da região, as operações motorizadas foram muito menores do que as da Segunda Guerra e, como eu falei no começo da matéria, a quantidade de MBs e GPWs era enorme dentro do exército e a quantidade de M-38 disponíveis não era suficiente para uma substituição em grande escala, coisa que aliás nunca aconteceu, pois os antigos Jeeps continuaram em serviço até bem depois que a Guerra da Coréia terminou.
 
 
 
Descarregando um jeep de um transporte um dia antes do inicio da Guerra da Coréia (25/06/50)
Cemitério de veículos militares em Pusan (Coréia) 1960
Cemitério de veículos militares em Pusan (Coréia) 1960
Hoje em dia existem muitos M-38 em mãos de colecionadores nos Estados Unidos. Por ser um veículo que viu pouca ação, podemos encontrar exemplares que facilmente passariam por "0" Km e que contam com quantidades enormes de peças de reposição. Bem, isso tudo lá! Aqui a coisa é um pouco diferente, pois só por causa da famosa bobina, do tamanho de uma pilha, que vai dentro do distribuidor, já vi muito carro, desse tipo, parado por falta de peças de manutenção. Cuidado quando for comprar algo do gênero. Pode ser muito legal ter algo que é exclusivo e único, mas lembre-se de que a dor de cabeça também pode ser exclusiva, única e inesquecível.
Até a próxima e mantenham os Jeeps rodando.
FICHA TÉCNICA PARCIAL

Nomenclatura:             Veículo Utilitário de 1/4 de ton 4x4 M38
Comp. total:                3,37 mts
Largura total:               1,57 mts          
Dist. entre eixos:         2,32 mts
Bitola:                         1,24 mts
Peso liquido:                1.238 Kg
Sistema elétrico:          24 volts
Combustível:                gasolina
Ângulos
            de entrada:       55°
            de saída:          35°
Carga:                          250 Kg
Pneus:                          7.00 x 16
Motor:                          AMC L-134 de 4 cilindros, válvulas laterais
Potência:                     60 hp a 4.000 rpm
Veloc. máxima:            90 km/h
Unidades produzidas     61.423   -    1950-52


2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo!
    Dado a falta de informações sobre um modelo com pouquíssimo tempo de vida, a matéria está muito bem elaborada!

    Alguns "M38" aqui do Brasil, apresentam a cor amarela em seus faróis. Isso é original ou é mais um "modismo" brasileiro?

    Abraços.

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  2. Obrigado. Tento fazer o melhor possivel.
    Com relação aos faróis, realmente é um modismo brasileiro, encontrado principalmente em veículos do RJ. Motivo? Desconheço.

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